quarta-feira, 31 de outubro de 2012

*Um racha anunciado


Sou pindareense da “gema”. Minhas raízes, minha história, minha herança cultural em ruínas como o Engenho central denuncia.
Falo aqui como a cidade que respira sem dotes soberanos dos que me querem e não me possuem, mesmo com a apelação das minhas fraquezas ingênuas.
Sinto que me querem em pedaços. Minha demarcação é alvo de cobiça, mais pelo imposto e menos pelo desgosto que a população destes pedaços alardeia.
Sem escola de qualidade, sem praças, sem lazer, sem doutores, sem sonho ou promessas cumpridas.
Sou pai e irmão de um povo que quer minhas riquezas, mas eu próprio não reconheço e não me relataram as suas razões. Como saberei se é terra ou dinheiro o motivo dessa briga?
Destes meus pedaços vêm uma soma de impostos e não vejo sua verdade traduzida em políticas públicas, qualidade de vida e oportunidades.
Mas, que briga? Que ICMS ou FUNDEB? Dêem-me mais cachaça, mais pão e um pouco de circo, que tá tudo certo. Deixo tudo como está, mantenho o atraso votando no passado, levanto sua bandeira e pegarei sol na sua porta. Mas desde que não seque o meu cálice, continuarei assim esquecido e fingindo ser lembrado a cada beijo de Judas e visita obrigatória.
Que meus ouvidos sonhem e o meu coração acredite, este abuso vai acabar. Mas sinto que essa seringa me suga o sangue como aquelas caçambas sugam as veias de açúcar deixando azeda  e empoeirada a paisagem.
Eis que surge de novo a velha promessa de progresso em troca de apoio, sorrisos e abraços que viram banho em éter para limpar o suor da ingenuidade.
Como se não bastasse, minha filha pródiga reivindica seu espólio e contesta meus limites. Ninguém merece! Nem Pindaré e nem o Estado.  Tenho certeza que existem outras brigas que valem à pena serem travadas. Como a proteção do seu próprio território.
A repulsa ao extravio de açúcar de minhas jazidas que mina a cada dia o meu rio, repousa num “silêncio que precede o esporro”.
Seus olhos não querem ver. Mas, minha santa dos canaviais, teus guardiães insuflam a raiva que vem dos peixes e o assombro das imagens sem perna farão despertar a serpente adormecida nos porões do engenho.
Auditem logo esse interesse, rebatam o apoio dos Judas daqui e reclamem em seus comícios. Pois se não, o meu protesto ficará para depois das eleições. E assim poderei votar em minha dilapidação, meu dilaceramento.
Estou velho de mais para me insurgir? Não. Cego a ponto de não enxergar? Talvez. Não sei quem me defenderá da fome dos lobos estrangeiros. Sou uma promessa da providência e da fé que vaga nas romarias canônicas dos antigos destinos colonizados?
Ó Pindaré prometido! engrandecido nós, os teus filhos, te amamos!

* Escrito em 2010, no contexto das eleições. Analisa os interesses e propostas eleitorais dos candidatos da região do Vale do Pindaré e a polêmica de sua divisão territorial dos limites do município de Pindaré-Mirim.